Mentes, Mistérios e Tecnologia: A Saga de Uri Geller na Guerra Fria
Nos anos 1970, durante o auge da Guerra Fria, a Central Intelligence Agency (CIA) dos Estados Unidos recorreu a métodos pouco convencionais na busca por vantagens estratégicas sobre a União Soviética. Uma das figuras centrais neste esforço foi Uri Geller, um ilusionista israelense que ganhou fama internacional por suas habilidades de entortar talheres com a mente e supostos poderes psíquicos.
Início da Colaboração: Uri Geller e a CIA
Geller, um ex-paraquedista israelense, chamou a atenção da CIA por suas alegações de poderes psíquicos, em particular, a habilidade de ler e controlar mentes. Segundo Annie Jacobsen, em seu livro "Phenomena: The Secret History of the U.S. Government’s Investigations into Extrasensory Perception and Psychokinesis", Geller foi convidado em 1973 para participar de uma série de testes de psicocinese em um laboratório na Califórnia, onde cientistas desenvolviam tecnologias de armas nucleares e sistemas a laser.
Em um dos experimentos conduzidos pela CIA, Geller foi isolado em uma sala e solicitado a reproduzir um desenho feito por um agente em outra localidade. Geller desenhou uma figura semelhante, o que intrigou os analistas da CIA. Esses testes fizeram parte do programa de visão remota da CIA, que se estendeu até a década de 1990, com financiamento do Congresso dos EUA.
Vida Pessoal e Ligações com a Espionagem
Além de sua carreira no entretenimento, Uri Geller tinha uma vida pessoal que se entrelaçava com o mundo da espionagem. Em uma entrevista de 2018, ele relatou que seu primeiro emprego pago foi realizar tarefas para o Mossad, o serviço de inteligência israelense, quando tinha 13 anos. Sua mãe administrava um hotel no Chipre que servia como casa segura para espiões do Mossad.
Geller na Defesa Israelense e Missões Internacionais
Geller serviu na Brigada de Paraquedistas da Defesa Israelense e foi ferido em ação durante a Guerra dos Seis Dias em 1967. Seus supostos poderes paranormais foram reconhecidos pela CIA após um estudo intensivo de oito dias em 1973. Um documentário da BBC sugere que espiões da CIA e do Mossad usaram as habilidades 'paranormais' de Geller por décadas, incluindo durante uma missão para libertar reféns no aeroporto de Entebbe, em Uganda, em 1976, e no bombardeio de uma instalação nuclear iraquiana.
O Fim do Programa de Visão Remota e o Legado de Geller
Apesar de alguns sucessos nos experimentos, a CIA encerrou seu trabalho com ESP no final dos anos 1970, e o programa de visão remota foi transferido para o Exército dos EUA em Fort Meade, Maryland. Em 1995, um relatório da CIA conduzido pelo American Institutes for Research concluiu que o programa de visão remota não produziu "inteligência acionável" e foi considerado um fracasso.
Geller, contudo, sentiu-se reivindicado quando os documentos secretos foram divulgados, afirmando ter feito muitas coisas para a CIA, incluindo missões como apagar disquetes de agentes russos na Embaixada da Rússia no México.
A tentativa da CIA de usar Uri Geller e suas alegadas habilidades psíquicas na espionagem contra a KGB e outros países é um fascinante exemplo de como as agências de inteligência exploram todas as possibilidades, por mais não convencionais que sejam, na busca por vantagens estratégicas.
Entretanto, a saga de Uri Geller não foi marcada apenas por experimentos e colaborações secretas. Ao longo de sua carreira, Geller enfrentou intensas tentativas de ridicularização e exposição como fraudulento. Céticos e detratores buscaram desacreditar suas habilidades, sugerindo que seus feitos eram truques de ilusionismo. Além disso, várias investigações jornalísticas buscaram expor supostas fraudes, questionando a autenticidade de suas demonstrações públicas. Esses episódios de ceticismo e escrutínio público lançam uma sombra de controvérsia sobre a figura de Geller, acrescentando uma dimensão intrigante à sua história e desafiando as percepções sobre o equilíbrio entre o extraordinário e o cético em seu legado.
A validade e a eficácia desses experimentos continuam sendo pontos de discussão, mas a história de Uri Geller na Guerra Fria permanece como uma página intrigante na história da espionagem e da exploração científica. Sua contribuição, seja ela baseada em fatos ou em mitos, destaca como a busca por vantagens tecnológicas e psíquicas estava entrelaçada na narrativa da época.